quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Conselhos que devemos desconstruir I

"Na dúvida é melhor não tomar nenhuma atitude". Assim dizia um conselho que ouví de uma sábia amiga e levei para mim como verdade. Verdade até hoje, porque fiquei pensando que dúvidas sempre haverão, se levarmos esse conselho ao pé da letra nunca faremos nada. Sem esquecer dos muitos possíveis erros intrínsicos e a incerteza de cada ato ou decisão, ninguém sai de casa! Sempre existirá quarto para às dúvidas. Sermpre haverá um "viu!" "Eu te avisei!" no canto direito do ombro. É preciso bancá-lo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

"O tempo e o cão"


Esse é o novo livro da Maria Rita Kehl sobre o qual eu me debrucei hoje à tarde. Trata da atualidade das depressões. Aqui vão algumas das minhas prediletas.

"A aparente eficácia dos tratamentos medicamentosos (para a depressão) soma-se a paixão pela segurança que caracteriza a sociedade contemporânea, para a qual a idéia de que a vida seja um percurso pontuado por riscos inevitáveis produz uma espécie de escândalo".

"depressivo é aquele que cai antes da queda" (ela pega essa frase emprestada de Mauro Mendes Dias).

"tudo parece possível, não porque o horizonte das possibilidades e da liberdade tenha se alargado, mas porque os critérios e os limites que davam sentido à vida foram destruidos".

"o homem de hoje não cultiva o que não possa ser abreviado" (Paul Valéry)

"em análise, é possível observar o momento em que o enlutado consegue abandonar aquele que o abandonou".

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Miles Davis e a insustentável leveza de uma manhã ordinária

Não era tarde demais, entrou na lancheria e pediu uma torrada, observava o vento e a chuva através da janela. Não sabia o que ouvir, seus dedos rodavam atrás de alguma coisa que pudesse fazer sentido. Encontrou Miles Davis; nunca até então conseguira ouvir uma música dele até o fim, não entendia como algo podia arranhar e acariciar simultâneamente. Dessa vez ele ouviu até as últimas notas alcançarem seu silêncio.

Da janela viu uma mulher, um mendigo e dois cachorros. O mendigo, ironicamente, lia o jornal, mancava e parecia estar com muito frio, estava sem roupas de lã. Era um dia de inverno. Havia um aquário no bar, iluminado com uma luz verde escura fraca. Haviam alevinos recém nascidos junto ao solo, era preciso se aproximar para enxergar, buscar foco.

Ninguém se olhava no bar quando entrou um homem já tirando seu casaco, ele trabalhava alí, entrou sem acenar ou dar bom dia às suas colegas, apenas dobrou seu casaco cuidadosamente e colocou guarda napos nas mesas. E se fosse seu último dia? Quem choraria?

Ouvindo Miles pensou que nem tudo precisa ser de vida ou morte, que a vaidade o levara até então a não sair do lugar. O bar estava vazio, a rua vazia, às mesas muitos fantasmas, sentiu-se bem com aquela falta toda que o preenchia, sentiu-se vulnerável, e sabia muito bem como essa sensação lhe era normal, mas não hoje. Pensava que não precisava de ninguém até então. Sua vida, como agora a via, seria uma fuga cansativa. Entendeu que ele não era nenhum homem. Se perdeu, voltou, mergulhou na ilusão de que esperaria até ser achado e pode submergir de sua vertigem crônica. Naquele momente havia acordado.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Homenagem ao mestre Carlos

Citarei outro mestre e "amigo". Carlos Skliar. Tive um seminário sobre Derrida com ele, além de ter participado da minha banca de defesa na proposta de mestrado. Recomendo fortemente seu livro, "pedagogia (improvável) da diferença. E se o outro não estivesse aí".

"E digo: diante de um aparente novo nome, a perplexidade. Não o costume, não a docilidade.
Diante de uma aparente nova mudança, a desconfiança. Não a metástase e sim, em todo caso, a metamorfose.
Diante de uma aparente nova promessa, o desassossego. Não a total compreensão, não sua burocracia.
Diante de um movimento aparente, outra vez a perplexidade. Não o hábito incorpóreo. Não sua ordenação".

terça-feira, 1 de setembro de 2009

As dores de plástico não morrem.