domingo, 22 de agosto de 2010

Desembaraçando o olhar,
busco ancorar as pernas naufragadas,
mergulhar na fronha dos aromas,
nadar na chance das incertezas,
embarcar na proximidade salgada,
remar na espera da descoberta não afundar,
mapeando entrelinhas duvidosas no céu,
a vista de um coração.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

culpa

Algumas pessoas só precisam ouvir isso:
"vai ser feliz",
"tu está indo bem",
"pare de ser tão bonzinho".
Uma das falsas vantagens da tristeza é a de aliviar as culpas.
Assuma a pena, e depois siga.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

do vazio

O vazio pode te devorar ou te fazer correr atrás,
é maléfico quando prenho de auto piedade.
Pode ser mascarado por orgulho, livros, filmes, música, títulos, certezas, cachorros,
desmascarado por sonhos, esperança, amor, coragem, trabalho e paciência,
o vazio aumenta para os que buscam completude,
os que não aprendem que não há conclusões,
do vazio ninguém foge pra sempre,
o vazio pode libertar,
ele só precisa de um abraço.

domingo, 15 de agosto de 2010

Si

Ela escondida passou com um silêncio melodioso,
me encontrou com seu sorriso de poucas fotos,
entendi rapidamente que não sairia ileso,
eu disse oi e ela respondeu enchendo seu café com açucar,
uma mulher com receitas de família na ponta da memória,
herdou um sorriso tímido e um sinal pouco acima dos lábios que soube derreter,
posssuidora de uma liberdade dos que limpam a própria casa,
a força singela de quem passou por tempestades e sobreviveu,
aprendeu a ficar sozinha,
conhecedora do maduro sabor das doçuras amargas,
ainda assim com um encanto reservado na palma dos olhos,
deixou eu pegar sua mão,
não apertou nem afastou,
assim permaneci e pudemos caminhar,
me levou à Paris sem sair do próprio porto,
me ensinou coisas de cinema comendo devagar,
achou que eu ficaria com receio de suas mãos polares,
não poderia saber dos vendavais por que passei,
suportei o frio acreditando no calor,
e assim poderemos esquecer as traições congelantes,
apostando nossos nomes de verdade.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Inter 2 X Chivas 1


O Inter foi lá, foi lá e virou o jogo como se estivesse em casa. Perdemos nosso artilheiro Alecsandro, substituido de forma equivocada por Roth, mas com Giuliano, o gol é quase garantido. Um time com uma tranquilidade e um toque de bola preciso, digno daqueles que pretendem levantar taças, construir estradas e suportar pressões. Foi preferível levar um gol no fim do primeiro tempo do que no início do segundo, ganha-se assim tempo de respirar, ouvir o técnico e se motivar. O futebol tem suas injustiças e não havia culpados, foi uma cabeçada inusitada do mexicano vestido de Michael Jackson, sem chances para Renan. Voltamos e continuamos fortes e serenos. Celso Roth, como poucos, teve a capacidade de modificar a prória substituição, admitir um erro antes do fim é o que chamo de humildade corajosa, elemento crucial em qualquer guerra. Everton, em nenhum momento mostrou a que veio e não deveria ter sido escalado para abraçar tamanha responsabilidade. Sóbis entra em campo, então recebe a bola pela direita entre dois marcadores, e num passe de três dedos, entrega para D´alessandro no meio, ele inverte na esquerda para Cléber, que com um cruzamento preciso encontra Giuliano, que salta sem medo de ser feliz ou triste e encontra a bola, tudo fica suspenso, um giro de 360 graus percorre a tela da mente como no filme matrix, um milésimo de contato, tudo no ar, ao inferno com Newton e suas gravidades, esquecendo qualquer lei, Giuliano pressente a bola, colocando-a quase que como se com as mãos num ponto inatingível, secreto, escondido, uma nota, um domínio, um toque, um tapa, uma força, uma certeza, um instinto, suave e firme, um arco no tempo, o goleiro voa um voo sem fim, sem retorno ou devolução para o que marcaria o que começava a se tornar uma virada heróica, um abraço entre a bola e a rede, que girando fez pular uma nação inteira, ensinando que a força da imprevisibilidade aleatória raramente desmancha um trabalho dedicado do desejo. E assim foi. Nada está ganho, e o fim pode ainda reservar medos, receios e apreensões, mas até lá serei sempre feliz por torcer pelo Inter. Andar com fé eu vou, não importando se ela falhe.