quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sinal amarelo



Como é bom ser o último a passar pela sinaleira quando ela ainda permanece amarela, quando o trânsito está cheio, e há pressão por todos os lados. Mas a melhor de todas é a sinaleira da 7:30 hs da manhã, na encruzilhada da Goethe com a Silva Só. Nessa hora o trânsito já é bem intenso. Tenho dificuldade de acordar e enfrentar a manada de pessoas competindo e correndo, sempre atrasados e mau humorados, para não ser mais um desses chego sempre 15 minutos mais cedo que o necessário no trabalho. Quando passo pelo sinal amarelo, deixo os que estão na frente se distanciarem e sem preocupação diminuo a velocidade e vou sozinho bem devagar, imaginando por um minuto como seria se a avenida permanecesse assim estendida. Por alguns instantes súbitos e incertos consigo respirar a rua, o sol, o dilúvio, a cor do dia e as crianças caminhando para a escola. Esse é um minuto sagrado, quando sou presenteado pela sorte rara do sinal amarelo me acenar. Curto e duvidoso. Talvez assim sejam as vias da vida, elas não dependem da gente, vivemos esperando que se abram ou fechem, respeitamos suas cores, suas direções, quem vem acenando atrás ou vai devagar na frente, e nunca sabemos bem como ou onde estará a próxima. Cada um apenas esperando que o semáforo não se feche em alguma encruzilhada. Pelo menos vou cantando.

domingo, 22 de agosto de 2010

Desembaraçando o olhar,
busco ancorar as pernas naufragadas,
mergulhar na fronha dos aromas,
nadar na chance das incertezas,
embarcar na proximidade salgada,
remar na espera da descoberta não afundar,
mapeando entrelinhas duvidosas no céu,
a vista de um coração.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

culpa

Algumas pessoas só precisam ouvir isso:
"vai ser feliz",
"tu está indo bem",
"pare de ser tão bonzinho".
Uma das falsas vantagens da tristeza é a de aliviar as culpas.
Assuma a pena, e depois siga.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

do vazio

O vazio pode te devorar ou te fazer correr atrás,
é maléfico quando prenho de auto piedade.
Pode ser mascarado por orgulho, livros, filmes, música, títulos, certezas, cachorros,
desmascarado por sonhos, esperança, amor, coragem, trabalho e paciência,
o vazio aumenta para os que buscam completude,
os que não aprendem que não há conclusões,
do vazio ninguém foge pra sempre,
o vazio pode libertar,
ele só precisa de um abraço.

domingo, 15 de agosto de 2010

Si

Ela escondida passou com um silêncio melodioso,
me encontrou com seu sorriso de poucas fotos,
entendi rapidamente que não sairia ileso,
eu disse oi e ela respondeu enchendo seu café com açucar,
uma mulher com receitas de família na ponta da memória,
herdou um sorriso tímido e um sinal pouco acima dos lábios que soube derreter,
posssuidora de uma liberdade dos que limpam a própria casa,
a força singela de quem passou por tempestades e sobreviveu,
aprendeu a ficar sozinha,
conhecedora do maduro sabor das doçuras amargas,
ainda assim com um encanto reservado na palma dos olhos,
deixou eu pegar sua mão,
não apertou nem afastou,
assim permaneci e pudemos caminhar,
me levou à Paris sem sair do próprio porto,
me ensinou coisas de cinema comendo devagar,
achou que eu ficaria com receio de suas mãos polares,
não poderia saber dos vendavais por que passei,
suportei o frio acreditando no calor,
e assim poderemos esquecer as traições congelantes,
apostando nossos nomes de verdade.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Inter 2 X Chivas 1


O Inter foi lá, foi lá e virou o jogo como se estivesse em casa. Perdemos nosso artilheiro Alecsandro, substituido de forma equivocada por Roth, mas com Giuliano, o gol é quase garantido. Um time com uma tranquilidade e um toque de bola preciso, digno daqueles que pretendem levantar taças, construir estradas e suportar pressões. Foi preferível levar um gol no fim do primeiro tempo do que no início do segundo, ganha-se assim tempo de respirar, ouvir o técnico e se motivar. O futebol tem suas injustiças e não havia culpados, foi uma cabeçada inusitada do mexicano vestido de Michael Jackson, sem chances para Renan. Voltamos e continuamos fortes e serenos. Celso Roth, como poucos, teve a capacidade de modificar a prória substituição, admitir um erro antes do fim é o que chamo de humildade corajosa, elemento crucial em qualquer guerra. Everton, em nenhum momento mostrou a que veio e não deveria ter sido escalado para abraçar tamanha responsabilidade. Sóbis entra em campo, então recebe a bola pela direita entre dois marcadores, e num passe de três dedos, entrega para D´alessandro no meio, ele inverte na esquerda para Cléber, que com um cruzamento preciso encontra Giuliano, que salta sem medo de ser feliz ou triste e encontra a bola, tudo fica suspenso, um giro de 360 graus percorre a tela da mente como no filme matrix, um milésimo de contato, tudo no ar, ao inferno com Newton e suas gravidades, esquecendo qualquer lei, Giuliano pressente a bola, colocando-a quase que como se com as mãos num ponto inatingível, secreto, escondido, uma nota, um domínio, um toque, um tapa, uma força, uma certeza, um instinto, suave e firme, um arco no tempo, o goleiro voa um voo sem fim, sem retorno ou devolução para o que marcaria o que começava a se tornar uma virada heróica, um abraço entre a bola e a rede, que girando fez pular uma nação inteira, ensinando que a força da imprevisibilidade aleatória raramente desmancha um trabalho dedicado do desejo. E assim foi. Nada está ganho, e o fim pode ainda reservar medos, receios e apreensões, mas até lá serei sempre feliz por torcer pelo Inter. Andar com fé eu vou, não importando se ela falhe.

sábado, 31 de julho de 2010

Na terra

Acreditou, finalmente que, de fato, tudo poderia ser decidido com um sim ou um não, pensou que talvez e quem sabe são venenos mortais quando duram demais. Esperar respostas sentado envelhece, respostas precisam ser perseguidas, deve-se correr por elas.
Ninguém foge para sempre. Estava cansado de furar, desistir e encolher.
Entendeu que só quase no fundo da tristeza é possível mudar.
Mas balançou de novo, e então suspendeu quase tudo. Depois, com uma desconhecida força, aprendeu a ouvir e calar as vozes travestidas que habitavam suas costas, as que diziam que era completo, tentando abrandar desse modo as penosas faltas, que o faziam questionar o seu ar próprio.
Quis ficar só pela primeira vez com sua franqueza,
queria sentir sem filtro todos os adeuses e desperdícios,
todas as ausências de si,
queria poder voltar a falar sua língua.
Queria tocar o silêncio por trás dos infinitos presentes que imaginava merecer por qualquer suor. Descobriu que depois de tantas peneiras, se fica cego, se submerge em si, e se esquece que o mundo, assim como diz não, também pode oferecer o que se tanto deseja.
Começou a entender onde os sonhos podem ser plantados.
Não mais nas nuvens.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

lembrete

"Calma", "pare" e "menos".
O ministério da saúde mental adverte,
é bom saber usá-los com moderação.

terça-feira, 18 de maio de 2010

silêncio

Hoje faço aproximadamente um mês de silêncio, e apesar da chuva pedir minha voz, tentando assoprar promessas de uma nova velha chance de seguir, desacreditado, pareço andar sem alvo. Estou entre a redução de danos e a esperança. Mudar é um esforço hercúleo que envolve se soltar dos próprios braços, se desenroscar de si. Me encontro brigando no quase sempre, entre o menejo das contingências e a vontade de esquecer e ir. Um dia eu volto.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Do filme "à procura de eric"


"a vingança mais nobre é o perdão"


Um diálogo entre eric Cantona, um famoso jogador de futebol e Steve, um carteiro que é seu fã.

Steve-Qual foi o momento mais marcante de todos?
Eric -Não foi um gol.
Steve -Tem que ser um gol! Tenha dó. Último minuto, final da FA Cup contra o Liverpool.
Beckham cobra escanteio. O goleiro sai. E espalma. Ela atinge seu peito, você coloca no chão e chuta forte.
Pancada direto na rede!
-Não.
Wimbledon. Tem que ser Wimbledon. Você está indo na direção da bola.
A bola está vindo.
Calculando a trajetória dela, o ângulo. O giro dela.
Para onde o vento está soprando.
A velocidade do vento. Tudo.
Você estica o pé direito.
Domina à meia altura.
Manda a bomba com o pé.
E enfia lá dentro.
O voleio mais perfeito do mundo.
E já era. É gol.
Tem que ser um gol, Eric.
Eric-Foi um passe.
Steve- Um passe?
Eric - É.
Steve- Meu Deus. Para Irwin contra o Spurs. Sim! Lindo.
Eric- Eu sabia como ele era talentoso. Pé esquerdo ou direito. Foi um reflexo.
Só dei um toque com o lado do pé. Surpreendeu a todos.
Ele sabia o que fazer com a bola e me emocionei.
Um presente. É como uma oferenda ao Grande Deus do Futebol.
Steve- E se ele tivesse falhado?
Eric- Você tem que confiar nos seus colegas de time. Sempre. Se não, estamos perdidos.
Tudo começa com um passe bonito.

terça-feira, 6 de abril de 2010

diálogo do filme bonecas russas

Copio e recomendo o blog http://picadinhoderoteiro.wordpress.com

Ouvimos a voz de Xavier enquanto escreve em seu computador no trem que vai levá-lo até Wendy.

Xavier - Pensei nas garotas que conheci, com quem transei ou só desejei. Elas eram como bonecas russas. Passamos a vida inteira nesse jogo, querendo saber quem será a última, a menor de todas, a que estava escondida dentro das outras desde o início. Não podemos ir direto até ela, temos que seguir as regras. Abrir uma após a outra e nos perguntar: “Esta é a última?”

Por quantas primeiras últimas temos que passar?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dizer adeus (sem ódio) é uma arte

os problemas começam...

Os problemas começam quando o medo de não ser esquecido é maior que o desejo de ser lembrado,
quando o medo das retinas é maior que o da necessidade,
quando a carência é menor que a solidão.

domingo, 4 de abril de 2010

pra começar

Não tenho mais tanto tempo e dizer adeus basta,
a verdade quase não precisa ser dita,
O que sei deve chegar,
sei que sou insuficiente,
mas enxergo o que devo fazer,
espantarei a preguiça e o medo da solidão,
porque tudo no fim é menos difícil do que imagino,
e ninguém é imune.

terça-feira, 30 de março de 2010

Os que tentam corrigir...

Os que tentam corrigir os males da nossa época com ideias que estão na moda – só porque estão na moda – corrigem a aparência viciada das coisas, mas não o fundo delas, que piora sempre.
__________________________________________
Sobre o autor:Michel Eyquem de Montaigne foi um filósofo francês que viveu entre 1533 e 1592 na França e era um pessimista em relação à sociedade da sua época.

P.s. Isso me parece tão atual!!

segunda-feira, 29 de março de 2010

poker face

Cuidado ao blefar com a vida,
o mundo acaba sempre pagando pra ver.

quinta-feira, 25 de março de 2010

definição de anormalidade

Podemos dizer que um sujeito está "anormal" ou "doente", quando esse sabe que um determinado comportamento ou ação sua terá um final ruim e, ainda assim, ele a comete repetidamente, esperando que, quem sabe um dia, o resultado seja diferente.
Do filme 28 dias

terça-feira, 23 de março de 2010

Dica de bar Porto Alegre

Conheci nesse domingo a "casa de teatro", um bar ótimo pra quem mora em Porto Alegre. Ele fica na Garibaldi, 853 e ajuda a preencher uma lacuna importante no cenário carente do Bom Fim e arredores, além disso corresponde muito bem as expectativas, já que há opção de ambiente aberto ou fechado. É bastante espaçoso pra quem não aguenta mais as comuns superlotações dessa cidade cada vez mais apertada. O atendimento deixa a desejar, mas enfim, nada é perfeito. Visitem e não espalhem!

sexta-feira, 19 de março de 2010

sugestões

Tenha a coragem de jogar o lixo no passado,
invente uma mágica pessoal,
crie outra máscara,
não esqueça da simplicidade prazerosa de guiar,
faça uma nova amizade, se for preciso, muitas,
vá no cinema numa tarde de semana,
sugira um filme para o desconhecido ao lado,
fale sobre ele,
sorri sem pressa,
aja como se houvessem garantias.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Momento segunda feira

É mais fácil fazer as coisas pelos outros, desse modo nunca perceberemos suas deficiências e teremos as coisas e os outros do nosso jeito.
É mais fácil deixar os outros fazerem as coisas por nós, assim nunca perceberemos nossas próprias deficiências e culparemos eles pela mesma omissão.
Viram agora porque os homens não podem viver sozinhos?

quarta-feira, 10 de março de 2010


Eu entendo ela hoje...

Minha leitura de verão


Divido com vocês uma coletânea que fiz a partir do livro que devorei nas minhas férias. Um livro de John Gray chamado "Cachorros de Palha- reflexões sobre humanos e outros animais". Recomendo muito.

"o conhecimento não nos torna livres. Ele nos deixa como sempre fomos, vítimas de todo tipo de loucura"

"Ser uma pessoa não é a essência do que é ser um humano, mas apenas-como a história da palavra sugere- uma de suas máscaras"
"Pessoas são apenas humanos que assumiram a máscara transmitida à Europa durante as últimas poucas gerações e a tomaram como sua própria face"

"fora da ciência, o progresso não passa de um mito"
"a origem da ciência não está na investigação racional, mas na fé, na magia e no logro"

"buscar significado na história é como buscar padrão nas nuvens"

"muito pouco do que tem conseqüência em nossas vidas requer consciência. Muito do que é vitalmente importante só acontece na ausência dela".
"na verdade, em praticamente tudo em nossas vidas, nossas ações são iniciadas inconscientemente: o cérebro nos prepara para a ação e então temos a experiência de agir"
"quando estamos prestes a agir, não podemos predizer o que estamos prestes a fazer. no entanto, quando olhamos para trás, podemos ver nossa decisão como um passo num caminho ao qual já estávamos confinados. Às vezes vemos nossos pensamentos como eventos que nos acontecem e às vezes como atos nossos. Nosso sentimento de liberdade resulta da mudança entre esses dois pontos de vista. O livre arbítrio é um truque de perspectiva".
"pensamos que nossas ações expressam nossas decisões. Mas, em praticamente toda nossa vida, a vontade não decide nada."
"para Hume, a noção de si mesmo é apenas um ensaio de continuidades"
"a noção de si mesmo é um efeito colateral da falta de refinamento da consciência; a vida interior é muito sutil e transiente para ser conhecida em si mesma".
"nossa experiência subjetiva é freqüentemente, talvez sempre, ambígua"

"despertar para a verdade de que a vida é um sonho não precisa significar afastar-se dela. Pode significar acollhê-la.

"Hegel escreveu que a tragédia é a colisão do certo com o errado". "Embate entre o desejo humano e o destino".
"...existe tragédia quando os humanos se recusam a se submeter a circunstâncias que nem a coragem nem a inteligência podem remediar".

"se os mortos pudessem falar, não os entenderíamos"
"a verdade desvelada apenas nos cegaria"

"A conclusão final do trabalho de Freud é que ser uma boa pessoa é uma questão de sorte".

"Para Homero, a vida humana é uma sucessão de contingências".

"ainda falta um filósofo que escreva um grande romance. O fato não deveria surpreender. Na filosofia, a verdade sobre a vida humana não tem nenhum interesse".

"a autonomia pessoal é produto de nossa imaginação, não a maneira como vivemos. Somos forçados a viver como se fossemos livres"

"o pensamento ocidental está fixado no hiato entre o que é e o que deveria ser".
"se agimos certo, não é porque traduzimos nossas intenções em ações. É porque lidamos habilmente com o que quer que precise ser feito".

"as tiranias começam como festivais para deprimidos, sua promessa implícita é que irão aliviar o tédio dos submetidos"."

"é quando acreditam que deixaram para trás sua natureza animal que os humanos mostram as qualidades que apenas eles possuem: obsessão, auto-engano e perpétuo desassossego".

"como a felicidade não está disponível, a maioria da humanidade busca o prazer".

"o tecido de nossas vidas é feito de atos irrecuperáveis e eventos inalteráveis".

Obs. transiente é o mesmo que transitório ou passageiro.

terça-feira, 9 de março de 2010

"I´m in collision with every stone I ever threw"
Estou colidindo com todas as pedras que já joguei.

Da música "flame turns blue! Do mestre david gray!

Cada um no seu quadrado dos infernos

Ontem, lá pelas 17 hs, ao sair do meu local de trabalho, fui obrigado a retirar o carro de uma colega antes, já que ele estava bloqueando a passagem do meu. Acontece que não obtive ajuda dela, que estava ocupada atendendo, então manobrei o carro dela, colocando-o, durante 5 minutos, na frente da garagem do vizinho da frente, para que , depois de retirado o meu carro, eu pudesse recolocar o automóvel dela no lugar de origem.
Quase terminada a operação, fui buscar o carro dela, e encontrei o dono da casa: um senhor com seus setenta anos, vestido com um abrigo. Eu já cheguei avisando que o carro era meu e que eu não havia estacionado alí, explicando a situação. Ele parecia visivelmente irritado e respondeu que apesar disso, eu não poderia ter feito aquilo sem a sua permissão, que alí não era local público, tendo expresado sua insatisfação, eu apenas pedi perdão e me retirei com delicadeza. Ele virou-se e voltou para seu asilo.
Fiquei com raiva depois disso, pensei que eu deveria ter sido mais rude e irônico. Deveria ter perguntado se havia lhe ferido ou causado algum mal e, caso sua resposta fosse positiva pediria perdão, cogitei também a possibilidade de ter dito que, se havia lhe ferido, que me perdoasse. Eu juro, meu carro não passou de 5 minutos no local. Tentei imaginar como seria se eu estivesse na situação inversa, se iria me irritar assim e conclui que não. O velho estava dentro de casa, eu não impedi sua passagem, nem tampouco seu direito, super valorizado, intocável, venerável e sagrado de ir e vir, eu estava o tempo todo de olho no carro da colega, em caso de algum imprevisto ou emergência.
Acabei tentando digerir a raiva, me achando um trouxa por ser tão educado e por deixar as pessoas fazerem o que bem entendem sem uma contra repreensão da minha parte em nome do respeito aos mais velhos. Eu não tenho culpa pelos ressentimentos alheios, mas alguém sempre acaba tendo que pagar a conta por eles. Acredito que para fins de entendimento de situações assim, não há sentido em tentar desculpar a resposta do sujeito como consequência da sua velhice, aposentadoria, invalidez, doença, ou viuvez, eu não tenho nada a ver com isso.
Acontece que hoje vivemos, por um lado, uma gigantesca falta de limites e de noção que beira ao caos e a insanidade e, ironicamente, por outro, uma super intolerância contra qualquer pequeno ato "infrator" que invada a calçada do vizinho. Farei de tudo para não acabar como o senhor da rua Antenor Lemos. Tem gente que precisa viver brigando por alguma coisa qualquer, pessoas que acreditam sempre estar sendo lesadas. Quem nunca foi??? Não pode ser isso o que nos determina ou reflete no final. Pelo menos não deixei me dirigir pelas minhas próprias rusgas, não aceitei o convite da briga, não fiz o ódio circular, amorteci no peito e pisei no acelerador sem olhar para o vidro retrovisor. É início de semana. Vida que segue.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Um ponto

Eu não estou conseguindo espancar o teclado, não sei o que está acontecendo com meu pensamento, minhas associações não andam tão livres, algo as está prendendo. Eu poderia tentar falar da obsessão de um amigo por uma mulher, da conformidade de uma mulher que aceita qualquer coisa para não se enxergar, da solidão dos malucos por controle, das contingências nascidas da acomodação, do medo de amar, do medo de carecer ou depender. Esses títulos ecoam em minha cabeça, mas parece que ainda estão na forma de sementes. Eu já queria tê-las desenvolvidas, resolvidas, e prontas, mas ainda não consigo. Se for esperar resolvê-las para começar a escrever, talvez fique para sempre mudo.
Me disseram que sou exigente demais, não sou muito paciente mesmo, é que eu não gosto de empatar vidas, tampouco acredito que a fila simplesmente anda, a impressão que tenho é que ninguém espera por outro, parece triste dizer isso, talvez cruel. Eu ainda esperava. Hora de andar.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Do filme taking woodstock



"Perspective is what shuts out the universe.
Everyone with their little perpective,
it keeps the love out"

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

De volta de novo...



Voltei de férias. Foram praticamente três semana de paz e três dias de guerra. Quando cheguei na praia, tirei meus tênis, vesti minhas sandálias e praticamente não fiz mais nada que envolvesse paredes brancas, 4 rodas, consumação, concreto e canos fumegantes, descontando uma ida a Florianópolis com um amigo. Não pulei carnaval e não fiz festa, preferi jogar vôlei, acordar cedo, aproveitar o sol, ler um livro e ficar sozinho. Em minha companhia tive, por vezes, um sapo simpático que não desistia de se segurar, música, vento, família e, por talento e sorte, alguns amigos. Não escrevi nada nesse período, fiquei em silêncio, e continuo, ironicamente, assim. Andava preocupado demais com o que iria postar, e isso não ajuda ninguém a se expressar, não se escreve por decreto ou desejo, escrevo melhor quando preciso, quando não espero ser gostado. Aos que respeitaram meu silêncio, eu agradeço. Agora espero precisar.

sábado, 23 de janeiro de 2010

A velha a fiar



"Estava o homem no seu lugar, veio a morte lhe incomodar: Morte no homem, homem no boi, boi na água, água no fogo, fogo no pau, pau no cachorro, cachorro no gato, gato no rato, rato na aranha, aranha na mosca, mosca na velha e a velha a fiar".

Essa canção está batendo na minha mente volta a e meia, do nada. Acho que ela quer me dizer algo. O recado talvez revela que é melhor se acostumar, não há sossego ou paz no círculo da vida, todo mundo se querendo, sempre tem alguma coisa incomodando, interpelando, esperando ou interrompendo, mesmo assim não podemos deixar de fiar. Mas na verdade, penso que a música quer dizer que é importante saber a hora de parar de fiar, juntar o mata mosca e esmagar a desgraçada, depois fazer outra coisa menos repetitiva e mais interessante com a vida. Cantava quando criança, entendi só agora; pelo menos ainda não sou velho.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"Devemos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos para poder viver a vida que nos espera".

(Joseph Campbell)

Que o narcisista em você consiga largar o osso! Não adianta! O mundo nunca vai retribuir o "super" zelo e a atenção que você, não tão altruistamente, o concede. Pare de esperar retorno. Abandone esse plano absurdo, e não o mundo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Frase do dia




"...é por isso que seres humanos existem, para salvar cada um de sí mesmo"

Do filme "ironias do amor".

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Para não esquecer...

"I don´t think life is absurd. I think we are all here for a huge purpose. I think we shrink from the imensity of the purpose we are here for"

"Eu não penso que a vida é absurda. Eu penso que nós estamos aqui por uma grande razão. Eu penso que nos retraímos devido à imensidão da razão pela qual estamos aqui".

Norman Mailer

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Viver é também, aceitar repartir, sem medidas justas, o que mora na palma da mão com os céus.
Espere para saber, e nada acontecerá.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

As linhas paralelas só se encontram no infinito. Ainda bem que as linhas humanas são tortas. Nunca saberemos ao certo por que esquinas o nosso infinito perâmbulará trôpego, esquecido e cego.

Voltar...

Voltar é complicado porque a gente quer sempre reencontrar um lugar melhor.
Viví a alegria de um feriado em companhia de sorrisos sinceros, da lua morna, de refrescos no mar, da música na estrada, do vinho doce, do abraço de bom dia. Tudo muito verde.
A tristeza reside no meu desejo de regressar para um lugar um pouco menos feio, sem tantos sapatos, businas, notícias, camisas apertadas, marrons, corações cerrados e olhares curvos. Parece que voltar é como vestir máscaras de faces rígidas, nervosas, é retocar a pose uniforme de cada manhã, domar a solidão e a vontade de fugir.
Voltar parece que é seguir o itinerário das rotas congestionadas, é ter os pulsos presos e a barba bem feita. É saber esperar o momento de se revelar como se gostaria, se pudessemos ser um pouco mais livres. É por isso que não podemos esquecer por que precisamos de amigos. Somente na companhia deles temos essa hora de ser quem somos, sem precisar.