terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Fim de ano à John Lennon


O fim de ano vem chegando e os olhos começam a lacrimejar. Cantando em meus ouvidos, John lennon sussura a pergunta: "o que você fez nesse ano"? Então sensações e lembranças rodopiam na retina e entregam um convite para o baile do balanço final.

Um ano ímpar, como diria minha amiga Nádia. Em anos ímpares nada termina arredondado, como se um desfecho feliz não fosse possível. Me encontro nessa reta derradeira, nadando contra um rio de possibilidades por fazer, onde tubarões e golfinhos convivem em aparente harmonia. Um ano que ficou sem par certo, dancei mais sozinho, dormi mais com meus travesseiros, cozinhei pra mim e lavei muita louça sem secar.

Nesse ano, entendi melhor que, às vezes, não afundar também é uma vitória. Manter o que obtivemos, bem como diminuir a frequência de atitudes e vícios que não nos levam a lugar algum requer uma constância e resistência que poucas pessoas conseguem enxergar e, então, facilmente apontam como falta de vontade ou ambição. Tentei resistir às soluções mágicas. Me esforcei para não dar tanto ouvido aos que exigem a obtenção de resultados numéricos no gráfico dos altos e baixos da vida.

Mas é hora de regular o foco, repensar o destino, imaginar o recomeço da vida, acreditar que é possível mudar mais, de novo. Tempo de entender que remoer mágoas é como mascar espinhos sem ajuda dos dentes. É hora de lembrar dos abraços e das lágrimas, de agradecer àqueles que tentaram ajudar, mesmo se não pudemos aproveitar suas mãos por vergonha, orgulho ou incompetência. Não é tarde para aceitar desculpas se fomos esquecidos e pedir desculpas se esquecemos. Às vezes um abraço basta, outras, um olhar não é suficiente, é necessário pedir falando. É também momento de tentar exorcizar os amores perdidos, àqueles sem desfecho do passado, ou os atuais que não correspondem para, então, voltar a caminhar sem todos os fantasmas que nos algemam. Aprendi que usar a meteorologia como desculpa gera uma tristeza polar. Por favor, não morram antes de viver sem desculpas.

Enfim, grande John, você quer saber o que eu fiz nesse ano? Eu dei minhas mãos a muitas crianças, acompanhei dores de pessoas que precisavam de filhos, de filhos que necessitavam de pais, brinquei no chão, girei dezenas de vezes a roleta do jogo, fui derrubado, rodei, rolei, lutei com espadas, chutei em gol, fui um pouco pai, psicólogo, professor e amador. Me defendi de bombas, perdi por W.O. e desisti cedo demais. Mostrei a língua, escrevi poesia e joguei fora um tempo precioso brigando sozinho e comigo. Perdi campeonato na última rodada, fui salvo pela minha irmã, chorei escondido, quis pular em queda livre, tentei reaver, revoltar, me separei e fui separado. Descobri novas músicas, cantei, fiz amigos "virtuais" que hoje vivem como se dividissem meu apartamento comigo. Trabalhei como um cavalo. Comprei um carro, renovei a carteira de motorista, consegui a cidadania polonesa. Conversei com a fé. Fiz uma oficina de poesia com um poeta maluco que pinta as unhas. E o mais importante, no fim, saí mais, arrisquei mais, comecei a fazer minha coragem tirar meus medos para dançar. Uma coragem desconhecida, que pode ser chamada, por alguns, singelamente, de amor.

9 comentários:

Kenia Cris disse...

Gostei muito, só pra variar. =P Principalmente pela sinceridade do texto, que é uma marca sua muito forte. Vc é um fofo, Marcelo. Minha retrospectiva é à Oasis, e logo chegará ao blog. Espero que goste também.

Fica o meu melhor abraço pra vc, que viveu tantas coisas importantes esse ano, e que tem tanto ainda por vir. Caminhe sempre em frente. Minha torcida é sempre pela sua felicidade.

beijo-te com carinho.

Dona ervilha disse...

Que bonito, Marcelo. Fiquei emocionada lendo. Como se dizia antigamente... passou um filme na cabeça. "Retrospectiva" é tão bom.
Bjo

Luciane Slomka disse...

chorei. e ponto. que bom estar ao teu lado e aprender contigo. esse ano foi nosso.
Te amo.
Beijos da tua "irfã" numero 1!!!

. fina flor . disse...

nem me fale, querido, tô com medo de fazer o balanço do meu ano.

foram muuuuuuuuuitas vitórias, muita superação, mas nada veio de graça, nem o pão, nem a cachaça e rever os tombos é senti-los novamente... então, tô adiando, rs*

beijos e obrigada pela gentil visita, volte sempre que quiser

MM.

adri antunes disse...

adorei seu texto, fiquei pensando no meu ano e até agora não tinha parado pra pensá-lo, e ainda nao posso escrever nada porque tem muita coisa acontecendo, mas o seu jeito de escrever e relatar os sentimentos me deu vontade de escrever.
quanto ao seu recadinho no meu blogue:
obrigada, celo.
é, ehe, gosto das ambivalências, mas as revivo mais como charme do que como necessidade mesmo. acho, né, ehehe, afinal de perto todo mundo é meio doido.
um bjuuu grande.

Verônica Rezani disse...

Que post lindo esse, meus olhos até lacrimejaram :]

E sabe, mesmo que nao tenha sido pra mim, a parte do "fui um pouco pai" me caiu como uma luva, não por meu pai tambem se chamar marcelo, mas sim, por vc e ele serem aquele tipo de pessoa que sempre diz algo que melhora meu dia :]

Um beijo enorme :*

Nádia Lopes disse...

ah, meu amigo, foi sim um ano ímpar mas fico imensamente feliz de ver que pela tua retrospectiva que tu está muito perto da essência, está tão inteiro, tão verdadeiro que é uma delicia te ler e te saber na minha vida!
beijo grande, e um SUPER 2010 pra todos nós!

marcelo disse...

Gente! Amei todos os comentários! Espero ter criado uma faísca um no balanço do ano de vocês. Mas ainda não acabou!!
Descobri, um dia depois de postar, que dia 8 de dezembro foi o dia do assassinato do John Lennon. Fiquei pasmo com a coincidência! Coisas loucas da vida!
Beijos carinhosos!!

Gisa disse...

Tem sido um grande prazer te conhecer melhor... sincero, sensível... um poeta.

Este ano pra ti foi especial, mais ainda será o próximo...

abs