domingo, 15 de novembro de 2009

É preciso amar como se não houvesse amanhã?

Sabe essa coisa do Renato Russo falar que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"? Sempre me incomodou! Achava bonitinho, romântico, talvez até poético, porém distante demais da realidade. Quando algo foge demais da "vida como ela é", perde seu efeito de tocar, o que podia ser belo vira algo que cheira a um desespero, às vezes, agressivo.
Enfim, até hoje eu ficava dividido, na dúvida sobre a verdade e o uso dessa sentença "russiana".

À primeira vista, não gosto quando alguém chega querendo me avisar sobre o que eu preciso. Dos meus deveres só eu gostaria de saber. Precisar é quase sempre doloroso. Por outro lado esperamos muito que os outros saibam do que precisamos: como é bom quando o outro sabe né? Quão confortável! Ter que dizer "eu preciso" pode ser de uma grande dor. Mas depois de dito pode ser algo completamente revolucionário. Me dei conta disso agora que estou só. Porque será? Precisar está sempre circulando entre a prisão, a esperança e a liberdade. Certamente precisamos amar, claro que sim, mas não venha me dizer como eu preciso amar. Amar nunca será preciso, senão ele perde seu valor, esvaece e murcha.

Não é viável viver acorrentado à lembrança diária de que poderemos partir amanhã para então conseguir amar de fato.
Eu queria aprender a amar, apesar de amanhã. Sem colocar a morte no jogo. Morte, a única força que pode interromper a vinda desse tal dia de amanhã. Diante da morte tudo fica mais enfeitado, belo, arredondado, todos querem fazer as pazes e reconciliar. Diante da morte podemos voar, amar ou odiar quase que incondicionalmente. Mas diante da velhice, do cansaço e da mentira, das idiosincrasias, incongruências, da preguiça, do egoísmo, dos corações divididos, dos terremotos de chances e desentendimentos que o amanhã traz, é diferente. Aí então o amor se prova um desafio, um balanço delicado entre a corda, o trapezista e o tempo.
Amanhã sempre chega e traz o intempestivo teste do martelo sobre os nossos conceitos.
Vamos caindo e reconstruindo sobre (e com) o que restou deles. Mudamos.

Mas será que precisamos da morte para entender o que é amar? Acho, por enquanto, que não.

Eu sugiro amar como se não houvesse para sempre. Parece mais singelo, menos suicida e quase humano.

E chega de teorias precisas.

8 comentários:

Luciane Slomka disse...

Fantástica tua sugestão!!

Concordei muito contigo: acho que a imposição de amar pela pressa, por não haver mais tempo, fica pesada demais.

Amar por medo de perder o amor já não é mais amar tão livremente...

Boa, muito boa!

Beijos!

marcelo disse...

Que bom Lu! Acho que essa frase do Renato Russo virou um jingle da nossa geração, e te digo que penso que não ajudou muito. Só sendo jovem para amar como se não houvesse amanhã, afinal todo jovem acredita, secretamente, que ele será a única pessoa na história da humanidade a viver para sempre. Por isso ninguém quer deixar de ser jovem. :)

Verônica Rezani disse...

É exatamente isso,
sempre achei que amar como se não houvesse amanhã (apesar de fazer com que a coisa toda pareça mais intensa) acaba fazendo parecer que é sem esperança e o amor, pra mim, é composto de pura esperança.

Verônica Rezani disse...

Opa, desculpa cair de paraquedas. Como eu sou mal educada, acabei de chegar e já fui me sentindo à vontade.
Com licença...

marcelo disse...

:) Não precisa ficar paranóica aqui! A casa é tua, licensa concedida! Seja bem vinda. Gostei do que tu disse, o amor é composto de pura esperança. Sem amanhã ele sufoca não é mesmo?
Um beijo e até!

zaine disse...

Marcelo , adorei parabéns ,
sentimentos tem que ser livres para ter sentido de se ter , nada se deve ou se precisa para poder existir .amar não pode ter dia nem hora , simplesmente se ama ou não ama .
bjos zaine

Nádia Lopes disse...

Bom, Marcelo eu tenho usado a tal frase depois da morte do meu pai, simplesmente por que reconheci que podemos usar mil desculpas e empurrar as demonstrações de carinho e o proprio amor pra amanhã ( e esse amanhã não existe meeeeeeeeesmo), é essa a minha leitura, por isso também disse: "inventamos o amor eterno só pra desculparmos a nossa incapacidade de ser presente" e a tal capacidade de ser presente que insisto, a maior necessidade!
beijo

marcelo disse...

É isso mesmo Nádia! Muitas vezes deixamos de demonstrar carinho por acaharmos que sempre teremos a pessoas do nosso lado. Sinto muito pelo teu pai. Força e um grande abraço!