segunda-feira, 30 de novembro de 2009


Catando denúncias

Procuro um indício de calor,
alguma faísca involuntária do olhar,
um aceno franco à oeste dos lábios,
uma fenda no sistema imunológico egóico,
um sopro na aorta,
um tropeço da zaga,
a coceira na nuca,
evasivas do vento,
coisas de museu,
raridades arqueológicas.
Humanos desreplicantes.
Descomplicantes.
Não perca por W.O.
Se entregue comparecendo,
perdemos mesmo preparados,
ninguém sabe quem está lá,
tire o medo para dançar,
não deixe a beleza cegar,
não existe coração inteiro,
jogue apesar das ausências,
basta escolher o que é preciso saber e esquecer.

__________________________________________________________________

* A sigla W.O., muita usada no mundo dos esportes, significa “walk over“, o que, numa tradução literal para o português, seria andar sobre algo. Segundo o dicionário Oxford, o termo vem das corridas de cavalo, e se refere aos eventos que só tinham um jóquei na disputa, pelo fato de os outros terem desistido ou faltado à prova. Quando isso acontece, o único competidor presente precisa apenas andar sobre (walk over) a pista para ganhar.

Hoje, quando se diz, por exemplo, que um time vai ganhar a partida por W.O., o entendimento é de que o adversário não compareceu, dando assim a vitória para o oponente.
Acordei tarde,
naufraguei por arrependimento,
não decifro bem as âncoras,
estou sempre por fazer,
enfartei de dançar comigo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Falta de luz

Quando falta luz corro para as janelas reais.
Então apoio os cotovelos no parapeito e o olhar passeia pela rua, rumo ao céu alaranjado, visita o vizinho, rasteja pelo chão, se volta para dentro.
A presença da luz constante nos impede de enxergar o essencial; nossos pensamentos e a própria solidão. A escuridão me ajudou a enxergar um pouco melhor ontem.
A verdade é que ninguém sabe o que fazer consigo sem recursos elétricos, sem artifícios.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Inter 1 X 0 Atlético Mineiro


Confesso que não quis ver o jogo do Inter contra o Atlético Mineiro ontem, disfarcei falta de interesse para não chamar a atenção dos deuses do futebol, quis fugir do que seria a provável derrocada final do inter no campeonato. Já estava bastante decepcionado e cansado. Essa gangorra de melhor do primeiro turno a um dos piores do segundo me trucidou. Fiquei sem fé nas surpresas positivas latentes, inerentes aos jogos da vida.E não é que o inter brincou com a minha falta de fé! Quando eu desisto ele vai lá e resucita. Realmente o jogo só termina quando acaba. Agora o melhor a fazer é ficar em silêncio, um silêncio que vai nos separar dos 180 minutos restantes e dos 9% de chances de sermos campeões. Não dependemos apenas de nós. Quem depende? O outro estará sempre no caminho. Tudo na vida é questão de combinação. Que as probabilidades se explodam! Sigo não acreditando, mas assistirei os próximos jogos. E vamos Inter!
p.s. E o Celsinho Roth disse que ia ser campeão. Pessoas são como peixes, morrem pela boca.

domingo, 22 de novembro de 2009

Minha versão de Don´t stop believing (jorney)

Uma menina morando num mundo solitário,
pega o trem da meia noite indo para um lugar qualquer,
dividiria seu peito por um certo sorriso,
vive seguindo uma emoção escondida,
assombrada em algum ponto no escuro,
ela quer voltar a jogar os dados uma vez mais,
assim o filme não para nunca,
ela não deixa de acreditar,
espera segurar esse sentimento.

A vida é dura...


Tirado do excelente blog http://macanudoliniers.blogspot.com

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

0800 realidade

Disque 1 se você deseja parar tudo e descer
Disque 2 para recarregar o plano de paciência e tolerância
Disque 3 para assinar o pacote de esperança
Disque 4 para afogar os cínicos e egoístas,
Disque 5 para dormir uma semana,
Disque 6 para alugar um terreno na lua,
Disque 7 para conseguir um pouco de espaço na rua,
Disque 8 para viajar com amigos,
Disque 9 para acordar da fria indiferença da falta de respostas.

Escalar o desejo

Liberdade é poder se entender mais com a vontade do que com a probabilidade ou a possibilidade dessa se realizar.
A possibilidade é uma expectativa, uma fantasia que ocupa espaço (senti)mental e rouba o lugar do movimento; dos atos que nos levariam a realizar o que deveriamos para (pro)mover nossos desejos no campo das palavras e do outro. Se não estivessemos tão preocupados em alcançar o grande final, o amor, o sucesso, seria bem mais tranquilo e fácil, ironicamente, manter o foco.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Desabafo sobre a cegueira

Confesso que já tive muito medo de reconhecer minhas incompetências, acreditar na minha falta de capacidade, enfrentar situações de provação, entender verdades dolorosas. Inúmeras vezes fiquei sem saber o que fazer quando desejei intensamente alguma coisa, ficava confuso, não sabia o que fazer comigo, ficava mudo. Então desprezava minha própria fome.

Às vezes paralisava, outras forçava um esquecimento, tentava não enxergar, não expor a falta que doía. Desejar era um pouco como morrer.
Ser platônico pode ser tão confortável e romântico! Não passa de mais uma caverna!

Diversas vezes me enganei. Escolhi as vendas, as peneiras e lentes no fundo dos bolsos, oferecendo jeitos para contornar. Muitas portas eu selei. Tetos desabaram. Já fingi doenças, descolamentos, fraturas, inventei dores para fugir dos nãos. Tornei-me escravo do meu próprio disfarce de vítima, virei ele. Me senti traído por essas mesmas criações.

Não posso mais reparar as ligações não atendidas, devolver os discos, curar as esperanças decepcionadas, recolorir as flores perdidas nos livros, beijar o beijo nunca roubado, enfim, refazer o que abandonei em mim por medo.

Assim foi metade do meu coração.

domingo, 15 de novembro de 2009

É preciso amar como se não houvesse amanhã?

Sabe essa coisa do Renato Russo falar que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"? Sempre me incomodou! Achava bonitinho, romântico, talvez até poético, porém distante demais da realidade. Quando algo foge demais da "vida como ela é", perde seu efeito de tocar, o que podia ser belo vira algo que cheira a um desespero, às vezes, agressivo.
Enfim, até hoje eu ficava dividido, na dúvida sobre a verdade e o uso dessa sentença "russiana".

À primeira vista, não gosto quando alguém chega querendo me avisar sobre o que eu preciso. Dos meus deveres só eu gostaria de saber. Precisar é quase sempre doloroso. Por outro lado esperamos muito que os outros saibam do que precisamos: como é bom quando o outro sabe né? Quão confortável! Ter que dizer "eu preciso" pode ser de uma grande dor. Mas depois de dito pode ser algo completamente revolucionário. Me dei conta disso agora que estou só. Porque será? Precisar está sempre circulando entre a prisão, a esperança e a liberdade. Certamente precisamos amar, claro que sim, mas não venha me dizer como eu preciso amar. Amar nunca será preciso, senão ele perde seu valor, esvaece e murcha.

Não é viável viver acorrentado à lembrança diária de que poderemos partir amanhã para então conseguir amar de fato.
Eu queria aprender a amar, apesar de amanhã. Sem colocar a morte no jogo. Morte, a única força que pode interromper a vinda desse tal dia de amanhã. Diante da morte tudo fica mais enfeitado, belo, arredondado, todos querem fazer as pazes e reconciliar. Diante da morte podemos voar, amar ou odiar quase que incondicionalmente. Mas diante da velhice, do cansaço e da mentira, das idiosincrasias, incongruências, da preguiça, do egoísmo, dos corações divididos, dos terremotos de chances e desentendimentos que o amanhã traz, é diferente. Aí então o amor se prova um desafio, um balanço delicado entre a corda, o trapezista e o tempo.
Amanhã sempre chega e traz o intempestivo teste do martelo sobre os nossos conceitos.
Vamos caindo e reconstruindo sobre (e com) o que restou deles. Mudamos.

Mas será que precisamos da morte para entender o que é amar? Acho, por enquanto, que não.

Eu sugiro amar como se não houvesse para sempre. Parece mais singelo, menos suicida e quase humano.

E chega de teorias precisas.

sábado, 7 de novembro de 2009

sempre...

O tempo não transforma,
o tempo não enxagua,
não afaga ou desafoga.
O tempo é o difarce do esquecimento.
Escolher é uma sentença que não espera muito.

Para lembrar Clarice Lispector

Tudo perdôo aos que não sabem se prender, aos que se fazem perguntas. Aos que procuram motivos para viver, como se a vida por si mesmo não se justificasse.

Somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente

enquanto eu inventar deus, ele não existe

a vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre

não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada

Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe

É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos é que começamos a saber.

A coragem de Lóri é a de, não se conhecendo, no entanto prosseguir, e agir sem se conhecer exige coragem.

Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário.

Escrever sem estilo é o máximo que, quem escreve, chega a desejar.

Substituirei o destino pela probabilidade

Vou começar meu exercício de coragem, viver não é coragem, saber que se vive é a coragem

Mas usei demais as verdades como pretexto. A verdade como pretexto para mentir?

Clarice.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Aos tímidos

Tire o medo para dançar,
pule do barco para ver,
não se poupe por orgulho,
é preciso esquecer para abordar,
não espere garantias para convidar,
fale, mesmo quando não houver terra à vista,
pare de contar.
Os homens não respeitam o céu,
não cuidam de nada que está acima de seus narizes,
fingem-se cegos, diferentes, especiais, excesões,
deveriam lembrar os gauleses, que temiam por suas cabeças abaixo de um céu cadente,
o homen não evoluiu,
ainda acha que seu umbigo é o centro do universo, seu ego comanda suas ações e que seu Deus existe, e que obviamente não mora no céu.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Receita do dia

Desenrole o vento sul preso em celofane,
Quebre o gelo com uma colher de peito aberto,
derreta a tristeza e espalhe sobre uma forma untada com mel,
leve ao forno num dia de poucas nuvens,
talvez numa noite de lua crescente,
não esqueça das vontades em banho maria,
meio copo de açucar no olhar cai bem,
ressentimento é bom flambado,
sem coberturas no passado,
poucas gotas de limão nas expectativas,
uma pitada de pimenta no sorriso,
misture tudo com as mãos,
fique pronto para se lambuzar,
sem apetite é melhor não começar.

Pitaco

É no esquecimento da língua que o coração se revela.

lembranças da solidão


Sobre o vento, as notas de piano se sustentavam,
já as folhas pulavam afoitas sobre as correntes do nordeste.
As folhas não tem ordem,
sem aviso, elas apenas cumprem,
se soltam porque não resistem o hálito doce de um convite assoprado.
Caem dançando ao encontro, como eu gostaria.