quinta-feira, 6 de agosto de 2009

legado


Neto de uma guerra,
detalhe de um galho levado,
regado pelo desespero,
descendente de separações,
opção de fuga.
Irrevogáveis retalhos,
memórias mitocôndriais.
O que será irreparável?
Herdei a negação e a culpa dos que abandonaram,
a anestesia soberba dos que acreditam que não podem morrer duas vezes.
Cansei de heróis e monstros.
Continuo procurando um lugar,
alguma paz, raiz.
Quisera eu encontrá-las num sorriso qualquer de meu avô.
Alguém não é filho da guerra?

3 comentários:

Kenia Santos disse...

Às vezes também me canso de heróis e monstros, mas sempre haverá aqueles que vão admirar uns e temer os outros, e apesar de todo o cansaço, eu ainda continuo nesse estágio.

"Alguém não é filho da guerra?" pergunta o querido Marcelo.

"A guerra é mãe e rainha de todas as coisas; alguns transforma em deuses, outros, em homens; de alguns faz escravos, de outros, homens livres" - responde muito adiantado Heráclito, que acreditava ser o 'conflito' o gerador de tudo o que é conhecido. O remédio precisa da doença.

Não há como se purificar sem passar pelo fogo, concluo. E enfrento o fogo, seja lá o que for que ele me reserva.

Linda reflexão Marcelo, adoro vir aqui e agradeço sempre pelo carinho da sua resposta.

Pra você hoje, meu melhor abraço.
Cuide-se!

marcelo disse...

Precisaremos sempre de monstros e heróis mesmo. Dois lados da mesma moeda. Crescer é parar de acreditar neles.
Heráclito teve muita razão. Cara adiantado mesmo! "O remédio precisa da doença". Muito bom isso!!
Por que precisamos sentir dor, nos queimar para nos livrar da culpa ou se purificar? Sei que não há como sair ileso do fogo, mas não vamos nos queimar por culpa né?
Estou adorando tuas visitas Kenia! Forte abraço!

Luciane Slomka disse...

Bah. Fiquei atônita. Adorei.