quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Desabafo sobre a cegueira

Confesso que já tive muito medo de reconhecer minhas incompetências, acreditar na minha falta de capacidade, enfrentar situações de provação, entender verdades dolorosas. Inúmeras vezes fiquei sem saber o que fazer quando desejei intensamente alguma coisa, ficava confuso, não sabia o que fazer comigo, ficava mudo. Então desprezava minha própria fome.

Às vezes paralisava, outras forçava um esquecimento, tentava não enxergar, não expor a falta que doía. Desejar era um pouco como morrer.
Ser platônico pode ser tão confortável e romântico! Não passa de mais uma caverna!

Diversas vezes me enganei. Escolhi as vendas, as peneiras e lentes no fundo dos bolsos, oferecendo jeitos para contornar. Muitas portas eu selei. Tetos desabaram. Já fingi doenças, descolamentos, fraturas, inventei dores para fugir dos nãos. Tornei-me escravo do meu próprio disfarce de vítima, virei ele. Me senti traído por essas mesmas criações.

Não posso mais reparar as ligações não atendidas, devolver os discos, curar as esperanças decepcionadas, recolorir as flores perdidas nos livros, beijar o beijo nunca roubado, enfim, refazer o que abandonei em mim por medo.

Assim foi metade do meu coração.

8 comentários:

Luciane Slomka disse...

Adoro essas coragens para expor o que temos de mais frágil, de mais feio.

Quantos de nós não somos assim...

Metade do coração pode ter ido, mas ainda há a outra, esperando que a luz do sol bata direto, sem vendas, sem peneiras.

Puro Marcelo.

Adorei. Te adoro. E adoro ser tua irmã.

Kenia Santos disse...

Isso foi inspirado ou é um retrato verdadeiramente seu? É raro encontrar quem desabafe com tanta franqueza e transparência, quem exponha seus medos e arrependimentos, mas eles fazem parte da vida de todos nós porque justificam nossa humanidade, é o que sempre digo.

O texto está lindo e muito limpo, quase percebo uma tristeza profunda, pensada irreparável, mas tudo na vida tem um jeito, né Marcelo?

Na presença da tristeza eu fico sem palavras. Pudera eu estar aí mais perto, te confortaria é com um sorriso bem grande e um abraço bem apertado. Fica o bom desejo.

Beijo carinhoso, querido!

Talita Prates disse...

Uau, Marcelo.
Concordo com os comentários acima:
Neste texto, te sobra coragem, franqueza e transparência.
Eu gostei muito, me identifiquei profundamente...
(Ainda hoje refleti sobre essa questão do "reconhecimento de incompetências...").
Ser platônico é permanecer num "conforto" que pode ser fatal para a outra metade de coração que nos resta.

Boa sorte daí.
Parabéns, mais uma vez.

Um bjo.

Nádia Lopes disse...

bá, Marcelo
que forte e que lindo , apesar de triste teu texto!
Quem de nós não se emaranhou nesse medo e não se justificou? Não que faça diferença ou acalme um pouco a dor, mas isso tudo é damasiadamente humano e digo isso torcendo que teu (meu-nosso) meio coração tenho poderes de se refazer, se recriar e se completar de novo!

beijo na parte do coração que resta

Nádia Lopes disse...

Voltei por que tive um luz, não que eu goste dessa idéia de amor de metades, mas talvez só quando a gente se perceba com meio coração, sem a prepotência do inteiro, haja espaço pra se refazer em amor...quem sabe!?
Vai ver o que se perde é uma necessidade...

marcelo disse...

Um dia eu chego lá na pureza sobre o sol Lu! :)Tu sempre foi e será minha primeira "seguidora". Um beijão!
Realmente Kenia, eles justificam nossa humanidade, mas como doem! Não é?! Mas alí moram os diamantes também! Teu carinho consegiu confortar.
Exatamente Talita! Pode ser fatal de fato. Obrigado pela sorte! Um bj!

marcelo disse...

Certamente Nádia! É muito importante se dar conta de que se está com meio coração para poder aumentá-lo! Por essa razão não achei ele tão triste.
É muito bom não se sentir sozinho! Beijão!

Nádia Lopes disse...

siiiiiiiiiiiiiiiiiiiim teu post foi inspirador...vai pro Queb tb!!!
beijo- grata